“Eu sofri muito preconceito quando pedi para ser mecânica”, conta Sandra Nalli, 41 anos, sobre os obstáculos que enfrentou para realizar o seu sonho de trabalhar no setor de reparação automotiva. “Era uma empresa 100% masculina. Não tinha nenhuma mulher mexendo na manutenção dos carros”, afirma, relembrando o começo aos 14 anos como Jovem Aprendiz de uma oficina. Apesar das dificuldades, hoje, ela é a fundadora da Escola do Mecânico, uma edtech que, recentemente, recebeu um investimento de R$ 1 milhão da Yunus Investimentos Brasil, organização fundada pelo banqueiro e economista Muhammad Yunus.
Conforme publicado pela PEGN, o negócio teve início em 2011 quando a empreendedora teve a ideia de suprir a demanda de mão de obra do mercado de oficinas, capacitando os jovens para os quais ela dava aulas na Fundação Casa de Campinas, em São Paulo. Tudo começou como um projeto social. Nalli alugou uma sala e promoveu os cursos. Quando a procura aumentou, ela optou por comercializar uma parte dos serviços.
Hoje, o portfólio inclui uma série de módulos de treinamento que vão desde os princípios básicos até especializações. Durante a pandemia, os cursos passaram por algumas transformações. As aulas foram adaptadas para um modelo híbrido. “O perfil do nosso publico é aquele jovem que quer pôr a mão na massa”, explica. Por esse motivo, 30% das aulas são teóricas e 70% são práticas.
Uma das formas que Nalli encontrou de inserir os seus alunos no mercado de trabalho foi por meio do aplicativo Emprega Mecânico. A ferramenta, desenvolvida pela empresa, tem o objetivo de conectar os seus usuários com as vagas de emprego do setor. “Qualquer um vende um curso, mas se preocupar verdadeiramente com o sucesso do seu cliente é uma coisa muito diferente. No nosso caso, o sucesso é a geração de emprego e renda”, conta. “A nossa meta é ele se tornar um LinkedIn do ofício”, acrescenta.
Em 2016, a empresa lançou a sua primeira franquia. Atualmente, a Escola do Mecânico conta com 27 franqueados e dez escolas próprias em nove estados brasileiros diferentes. Além disso, recentemente, a Yunus Investimentos Brasil fez um aporte de R$ 1 milhão na edtech. O valor será empregado em marketing, canais de aquisição, pessoas, novos cursos e tecnologia, com o objetivo de aumentar a capacidade de impacto.
Sobre o setor que desbravou, Nalli diz já ter percebido algumas mudanças. “É um mercado ainda muito masculino, mas que evoluiu muito. Eu percebo pela quantidade de mulheres que estudam na Escola do Mecânico. Hoje, 20% dos alunos são mulheres”, explica.
Para os próximos anos, ela espera desenvolver novos cursos e expandir o modelo de negócios para outras regiões. “Quero replicar o formato para países desassistidos e carentes de mão de obra qualificada na América Latina”, finaliza a empreendora.
Por Carolina Ferraz da PEGN.