Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Estado do Pará (UEPA) identificou fatores de risco que afetam a recuperação da função renal em doadores vivos de rim. A pesquisa, realizada com pacientes do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém, revelou que a obesidade, a albuminúria (presença de albumina na urina) e a proteinúria (excesso de proteínas na urina) podem comprometer a capacidade dos rins de compensar a perda após a nefrectomia.
Transplante renal: um tratamento vital, mas com desafios
O transplante de rim de doador vivo é considerado a melhor opção para pacientes com insuficiência renal, pois apresenta menores taxas de complicações e melhora a qualidade de vida do receptor. No entanto, para garantir a segurança dos doadores, é essencial avaliar os riscos da doação. O estudo analisou dados de 32 doadores que passaram pelo procedimento entre 2016 e 2022.
Os resultados mostraram que 43,75% dos doadores apresentaram uma taxa de compensação renal inferior a 70% um ano após a cirurgia, um índice que pode indicar maior vulnerabilidade a complicações futuras.
Principais fatores de risco identificados
A pesquisa apontou três fatores principais que influenciam negativamente a recuperação da função renal após a doação:
- Obesidade: Pessoas com índice de massa corporal (IMC) elevado tiveram 10,6 vezes mais chances de apresentar uma recuperação renal inadequada.
- Albuminúria: O aumento da excreção de albumina na urina elevou o risco em 2,41 vezes.
- Proteinúria: Níveis elevados de proteínas na urina foram associados a um risco 1,14 vezes maior de uma recuperação insuficiente.
Em contrapartida, um fator protetor foi identificado: indivíduos com taxa de filtração glomerular (TFG) mais alta antes da doação tiveram uma melhor compensação renal após a cirurgia.
Importância do acompanhamento e seleção criteriosa
O estudo reforça a necessidade de uma triagem rigorosa dos doadores, além do acompanhamento contínuo para aqueles que apresentam fatores de risco. Segundo os pesquisadores, a obesidade já é um critério de atenção na seleção de doadores, mas os dados mostram que mesmo indivíduos aparentemente saudáveis podem ter dificuldades na recuperação da função renal.
"A doação de rim é um ato nobre que salva vidas, mas é essencial garantir que os doadores estejam em condições seguras para o procedimento e sejam acompanhados adequadamente no pós-operatório", afirmam os autores do estudo.
Cenário do transplante de rim no Brasil
De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Brasil é um dos líderes mundiais em transplantes renais, com mais de 5.300 procedimentos realizados em 2022. No entanto, apenas 14% desses transplantes foram feitos com doadores vivos, um número que pode crescer se houver mais conscientização sobre a segurança e os critérios de seleção de doadores.
Conclusão
O estudo destaca a importância de identificar e monitorar fatores de risco em doadores de rim vivo, garantindo um processo mais seguro e eficaz. Pesquisas como essa ajudam a aprimorar os protocolos de transplante, protegendo tanto os doadores quanto os receptores.
A doação de rim continua sendo um procedimento essencial para salvar vidas, mas exige um olhar atento para a saúde dos doadores a longo prazo.